Osasco / SP - quinta-feira, 25 de abril de 2024

Transtorno obsessivo compulsivo - TOC

     Após se sentar, Orlan*, visivelmente angustiado, começou a falar:

     - Eu não estou conseguindo controlar meus pensamentos, doutor, nem meus atos.

     - Como assim, Orlan?

     - Outro dia, só para o senhor ter uma ideia das loucuras que passam pela minha cabeça, eu me imaginei levantando e agredindo a professora de filosofia a socos e pontapés... Isso me deixou muito angustiado e por mais que eu tentasse, a mesma cena se repetia na minha mente sem parar...

     - E depois? – perguntei.

     - Saí da sala e fui para uma igreja rezar. Rezei três ave-marias.

     - Costuma ser invadido por imagens em que está agredindo alguém?

     - Muito! A primeira vez que isso aconteceu foi quando minha mulher deu à luz. Surgiu o pensamento de dar uma surra na Roselaine* e de matar o bebê!

     Ele baixou a cabeça e ficou algum tempo pensativo.

     - É terrível isto! – ele voltou a falar.

     - E o que fez quando a sua mulher deu à luz?

     - Fiquei tão aturdido com as repetições atormentadoras deste pensamento que, quando minha mulher adormeceu com a nossa filhinha, fui à capela do hospital, ajoelhei-me e disse pra mim mesmo que precisava rezar três ave-marias... Senti alívio. Mas tenho que sempre rezar três ave-marias para passar o mal-estar que sinto quando tenho pensamentos agressivos, cada vez mais frequentes. E sempre eu tenho que rezar três vezes a mesma oração para ter certeza que não fiz mal algum.

     - Fora estes pensamentos agressivos e a forma que escolheu para se apaziguar, outras coisas o perturbam?

     - Não consigo mais pensar direito. Toda hora sou invadido de dúvida... Quando saio do escritório, tenho de voltar para verificar se a porta está fechada... Faço isto muitas vezes, e a dúvida permanece...

     Depois de uma pequena pausa, ele continuou:

     - Também preciso deixar tudo em ordem, tudo arranjado, da maneira que eu quero. Eu sei que é um absurdo e acabo irritando as pessoas que estão por perto, mas tenho de proceder assim...

     Votou-se para si mesmo, cabeça baixa.

     - O que acontece? – perguntei depois de silêncio prolongado.

     - Sabe, doutor. Eu estou me segurando como posso por causa da sua mesa... Sinto impulso de arrumá-la do meu jeito, de tirar a poeira...

     - Poeira?

     - Acho que tudo precisa estar muito limpo... Tenho de lavar as mãos muitas vezes para acabar com a contaminação... Isto é um absurdo, eu sei que é um absurdo, mas os pensamentos são mais fortes do que eu.

     A tendência, com o passar do tempo, é de aumentar as obsessões e as defesas contra elas com os rituais compulsivos. O indivíduo, exausto e sem condições ideais de trabalhar, estudar, ou mesmo participar ativamente de atividades sociais construtivas, acaba por procurar tratamento psiquiátrico, a maior parte das vezes com outros transtornos que se agregaram ao TOC, geralmente a depressão. É fundamental o tratamento farmacológico, que aos poucos vai atenuando esses sintomas tão limitantes. A psicoterapia, como forma de tomar contato com as origens dos problemas, acelera a recuperação e ajuda a prevenir recorrências.

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*Nomes fictícios