Elton*, de quinze anos, entrou no consultório acompanhado de uma senhora.
- Pois não! – disse, após se sentarem, abrindo caminho para que falassem.
- Doutor Laerte, trouxe meu filho até aqui para que nos ajude – falou a mãe em tom quase de súplica. – O senhor é a nossa última esperança.
Olhei para Elton, mas ele baixou os olhos.
- O que acontece a Elton? – voltei-me para a mãe.
- Desde meados do ano passado, meu filho não consegue praticamente se relacionar, a não ser em casa. Ele fazia trabalho escolar com cinco colegas e... Diz pro doutor o que você sentiu, Elton.
Timidamente o adolescente levantou parcialmente os olhos, mas não olhou para mim.
- É que... É que quando começo a falar perto de um grupo de pessoas, eu me sinto muito mal... Parece que elas me observam e me criticam... Eu sei que não deve ser isso, mas é o que sinto.
- E a situação foi se agravando, doutor Laerte – prosseguiu a mãe. - Ele não vai mais à escola, pois não consegue conversar com os colegas, fazer trabalhos em grupo, fazer apresentações... Agora se confinou em casa e não sai de maneira alguma, nem para almoçar fora com a família... Uma vez, no dia em que fez quinze anos, insistimos para almoçar fora, e contra a vontade acabou cedendo... Eu me arrependi, pois ele se atrapalhou todo, derrubou pratos, talheres e ainda passou muito mal: teve náuseas, quase vomitou na mesa, ficou pálido e acabou por desmaiar.
- O que você sentiu nesse dia, Elton? – perguntei ao jovem.
- O meu coração disparou, comecei a tremer e nada parava nas minhas mãos, que suavam muito... Senti vertigem e desmaiei.
- Você tem medo de se expor Elton? – dirigi-me a ele.
- Hum?! O que foi que o senhor disse? Desculpe, mas eu estava distraído.
- Pensava em algo?
- Pensava em como voltar pra casa de metrô, com tanta gente olhando pra mim... Uma vez eu estava com minha mãe e mesmo assim fui atacado de um medo terrível dentro de um trem de metrô...
Na fobia social, a pessoa se sente observada e censurada por quem está ao seu redor e perde toda sua espontaneidade. Atrapalha-se quando alguém a fixa diretamente nos olhos, e logo desvia o olhar. Este distúrbio pode ficar restrito a uma determinada situação, ou se estender a todas as situações fora do círculo familiar. Como defesa, para não ter que enfrentar a situação temida, começa a se esquivar, podendo chegar a um isolamento quase completo. Às vezes, só de pensar, já entra em pânico.
A evitação é também a principal defesa que o sujeito tem à sua disposição nas fobias específicas: lugares fechados (claustrofobia), amplos e descobertos ou públicos (agorafobia), chuva, sangue e ferimentos. Neste grupo reúnem-se também as fobias por animais, principalmente os pequenos como aranha, barata, ratos.
O tratamento farmacológico é quase sempre necessário, e faz com que a recuperação seja rápida. A psicoterapia conjunta com os medicamentos favorece a descoberta dos conflitos intrapsíquicos e dá ferramentas ao individuo para resolvê-los, melhorando a sua qualidade de vida.
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*Nome fictício