Entraram Samy*e sua mãe.
A mãe tomou a dianteira e começou a falar. Samy, imóvel na poltrona, olhava para ela.
- Imagina o senhor, doutor, que a minha filha diz que os vizinhos falam o tempo todo dela...
- E falam mesmo, mãe! – interrompeu a filha.
- O que eles falam de você, Samy? – perguntei.
- Eles ficam falando dia e noite que vão me pegar, que vão me bater... Eu tenho medo! – respondeu precipitadamente.
- Falam mais alguma coisa?
- Que eu sou uma vagabunda, que eu não presto...
- Bobagem, doutor – retrucou a mãe. – Os nossos vizinhos são ótimos!
- Mas querem me pegar! – Samy gritou com voz angustiada.
- Você tem visto os seus vizinhos?
- Não, eu fico trancada em casa! Mesmo assim escuto os gritos deles me xingando, ameaçando.
Esta paciente apresenta um quadro de esquizofrenia do tipo paranoide: ouve vozes acusatórias, ameaçadoras, base para que estruture um delírio persecutório. No caso descrito, Samy sente-se perseguida pelos vizinhos. Neste tipo de esquizofrenia são também comuns os delírios de ciúme, em que o indivíduo vê a realidade de maneira correta mas a interpreta de maneira distorcida, como por exemplo o marido que interpreta todos os gestos da esposa como indícios de traição. Outra forma de delírio paranoide é o delírio de grandeza, quando a pessoa pode se considerar dotada de poderes especiais como o de se comunicar com seres alienígenas pelo pensamento. Outras formas de esquizofrenia existem, entre elas a catatônica em que o paciente pode permanecer em posição incômoda, forçada e sem se mexer por muito tempo, ou entrar em agitação violenta (furor catatônico).
O tratamento medicamentoso é sempre necessário e o seu advento mudou o curso da doença, antes quase sempre implacável. O indivíduo pode se recuperar totalmente do episódio sofrido, mas deverá estar sempre monitorado por um psiquiatra. Para prevenir recaídas, o tratamento por meio dos antipsicóticos deve ser mantido e, se possível, acompanhado de psicoterapia.
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*Nome fictício