Osasco / SP - sábado, 20 de abril de 2024

Depressão

                     


     Ela tinha a tristeza no semblante, no olhar, em todo o corpo. Após sentar-se, eu perguntei:

     - O que se passa com você, Ix?*

     Com a voz carregada de angústia, iniciou o relato de sua história recente.

     - De uns tempos para cá venho perdendo as forças, já não consigo trabalhar, estudar...

     Parou de falar, e lágrimas rolaram de seus olhos. Estendi-lhe uma caixa de lenços e aguardei.

     - Uma tristeza tomou conta de mim... Tudo perdeu a graça, a vida parece vazia, sem significado... Não tenho ânimo para sair, para fazer as coisas que sempre gostei... Não consigo me concentrar em nada... Tive que deixar a faculdade por falta de disposição para estudar...

     Ficou algum tempo calada, olhar vago.

     - E aconteceu algo que justifique a maneira como se sente? – interrompi o silêncio.

     - Acho que foi pelo trabalho excessivo e a faculdade à noite... Como não consegui estudar para uma prova, tirei uma nota muito baixa. Fiquei arrasada... A partir daí, passei a me sentir inferior aos outros, e tudo começou a ficar sem sentido...  Para mim, seria melhor que tudo acabasse!

     - Na sua família, há outras pessoas que tenham se sentido como você?

     - Minha mãe e minha avó fazem tratamento para depressão. Lembro-me que, antes do tratamento, a minha mãe estava como eu. Vivia deitada, com o quarto fechado, e sem energia até para o banho... Minha avó, a mesma coisa.

     - E agora que estão se tratando?

     - Elas estão se recuperando.

     - Você veio sozinha?

     - Não, doutor, foi meu irmão quem me trouxe. Ele ficou na sala de espera... Por mim, eu não viria...

     - Como se sente ao sair sozinha?

     - Agora já não saio de casa. Ao tentar sair um dia, quando comecei a ficar mal, vi que o mundo se armava contra mim. As pessoas me olhavam de um jeito que eu sentia medo... Parecia que elas queriam me fazer algum mal... Percebia, quando passava por um grupo de pessoas, que cochichavam a meu respeito...

     - O que diziam essas pessoas?

     - Que eu não presto, que sou uma vagabunda...

 

     Ix sofre de depressão grave. À doença se agregaram delírios persecutórios: sente-se observada pelas pessoas na rua, ouve-as falando mal de si.

     A depressão pode ser leve, moderada ou grave. Nos quadros leves ou moderados, frequentemente relacionados a fatores do ambiente (perda de um ente querido, acidente, derrocada financeira), não costuma haver grande prejuízo para o seu portador que, com algum esforço, consegue trabalhar, estudar, sair, viajar. Nestes casos, os sintomas psicóticos não costumam estar presentes.

     Na depressão grave, como a descrita acima, os sintomas psicóticos podem estar presentes ou ausentes. Nela, a constituição herdada é um fator importante para o aparecimento da doença, que geralmente surge quando o estresse ou outros acontecimentos do ambiente ultrapassam os limites suportados pelo indivíduo. Contudo, algumas vezes os sintomas surgem sem explicação aparente.

     Episódios depressivos frequentemente acompanham outros transtornos (síndrome   do pânico, fobias sociais, angústia generalizada, obsessão-compulsão), mas também podem se manifestar como sintoma de uma doença física (hipotireoidismo, por exemplo) ou de outra doença mental (como a esquizofrenia), ou ainda podem ocorrer durante fases especiais da vida (como a gestação, o pós-parto, a menopausa).            

     O tratamento é feito com antidepressivos e os resultados aparecem rapidamente. Em uma a três semanas o paciente começa a melhorar. Se estão presentes delírios ou  alucinações, associam-se antipsicóticos. Para combater a insônia, são prescritos hipnóticos ou tranquilizantes. Quando ao tratamento medicamentoso se associa a psicoterapia, o paciente tem chance de aprofundar o contato consigo mesmo e fortalecer os alicerces de sua personalidade, tornando-se mais apto para trabalhar os seus conflitos, o que faz diminuir os riscos de recorrência da doença.

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*Nome fictício