Fui à sala de espera e chamei o paciente pelo nome. Uma jovem se levantou e estendeu a mão para um homem de cabeça baixa, que parecia estar longe dali. Depois de alguns segundos, ele ergueu lentamente seu braço direito, e a jovem o ajudou a levantar-se da poltrona. Ambos caminharam devagar, lado a lado, até onde eu me encontrava.
- Boa tarde, doutor Laerte! – ela me cumprimentou visivelmente tensa.
- Boa tarde! – respondi, apertando sua mão e olhando para os seus olhos. Estendi a mão ao paciente, mas ele não se moveu. Pedi que me acompanhassem.
- Por favor, sentem-se – disse quando chegamos ao consultório, apontando para as duas poltronas diante de minha escrivaninha. – O que se passa? – perguntei ao paciente, que não respondeu. Voltei-me para a jovem.
- Doutor, eu me chamo Rosaline* e sou irmã dele – olhou para o rapaz. – Há uma semana que ele está assim, desligado do mundo.
Rosaline continuou a narrar o drama do irmão por um bom tempo. Acompanhei atentamente o que informava e pedi alguns esclarecimentos. No transcurso da consulta, ela foi se tranquilizando e pode responder com clareza às minhas indagações. Embora eu me dirigisse também ao rapaz, ele permaneceu todo o tempo imóvel, em silêncio, olhos no chão.
Pelo relato da irmã, pela postura do paciente, por seu hermetismo, fiz o diagnóstico de esquizofrenia catatônica. Prescrevi antipsicóticos e instruí Rosaline para estar sempre que possível com o irmão e que conversasse com ele, mesmo que não tivesse nenhum retorno.
- E ele vai ficar bom? – ela perguntou tristemente.
- Creio que ele tem tudo para voltar a ser o que era antes de adoecer – respondi.
Um mês depois, no retorno, fiquei surpreso quando o paciente, sozinho, entrou sorrindo no consultório.
- Dr. Laerte, veja como estou bem! – ele disse, sentando-se diante de mim.
- Vejo que está ótimo! Como conseguiu ficar bem tão rápido?!
- Eu estava preso em um mundo estranho, mas ouvi tudo que o senhor disse. Pensei muito no que o senhor falou, na conversa do senhor com a Rosaline e me veio muito forte a necessidade de cuidar do meu filho. Uma força surgiu dentro de mim, e eu consegui voltar para este mundo! Eu quero, eu preciso cuidar do meu filho!
- Você tomou a medicação? – perguntei.
- Tomei, mas acho que o mais importante para mim foi a sua atenção, o que o senhor disse.
- Você está ótimo! – afirmei.
- Eu me sinto recuperado! Fui à empresa onde estou empregado, e me pediram um atestado do senhor autorizando o meu retorno ao trabalho.
A consulta psiquiátrica é terapêutica desde o início. Mesmo parecendo desligado do nosso mundo, o paciente foi tocado pelo que eu disse, pelo meu contato com ele e com sua irmã.
A atenção do médico, seu interesse pelo paciente, por seu acompanhante, sua capacidade de se colocar no lugar de quem está sofrendo têm poder de cura. Suas palavras e seu afeto são tão importantes quanto a própria medicação.
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*Nome fictício